Dois guardas civis da GCM (Guarda Civil Metropolitana) da cidade de Itapevi, região metropolitana de São Paulo, foram afastados preventivamente e por tempo indeterminado do serviço após aparecerem em vídeos vazados na internet jogando bilhar com a farda da corporação.
Os nomes dos guardas não foram divulgados. As imagens também mostram pessoas não identificadas encostadas em carros da GCM com a sirene ligada, e dando tiros para o alto com um revólver.
No primeiro vídeo, os dois guardas estão jogando uma partida de bilhar no que parece ser a parte interna de uma casa. A pessoa que grava também foca a filmagem no veículo oficial dos guardas, estacionado do lado de fora do ambiente. Em outras duas filmagens, dois homens aparecem encostados nos carros com uma arma em mãos e, aos gritos de “toma, toma”, efetuam disparos para o alto. É possível ouvir pessoas alertando um dos homens a não filmar o topo do veículo. “Em cima tem número, vem aqui, pra cá, vira [a câmera]pra mim”, diz uma das pessoas não identificadas. O vídeo, segundo a prefeitura, provavelmente foi gravado em dezembro passado, mas a data ainda é apurada. Não se tem informações concretas ainda se a arma utilizada pertencia aos guarda.
A Corregedoria da Guarda Municipal investiga o caso que, ainda de acordo com a prefeitura, pode resultar em “punições severas” e até demissão.
“Completamente inadequado”
Para o professor de gestão pública da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Rafael Alcadipani, caso a arma utilizada pelas pessoas para dar tiros para o alto no vídeo seja de um dos guardas, é uma irregularidade extremamente séria. “É completamente inadequado o policial emprestar a arma dele para uma pessoa, e usar a arma da polícia para dar disparos é completamente despropositado. Policial anda armado para proteger, que impressão a sociedade vai ter?”, afirma. Alcadipani diz que até o fato de os guardas estarem jogando bilhar fardados e com o carro oficial da GCM já é inadequado. “Está longe de ser adequado. O sujeito não tem que estar usando viatura para jogar bilhar, seja na hora do expediente ou não. Ele fica exposto e expõe as pessoas a sua volta também”.
De acordo com a juíza Ivana David, da 4ª Câmara Criminal do TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo), a ocorrência dos guardas pode tomar dois caminhos:
A_ aprocedimento administrativo: enquadra-se como falta de decoro o uso da farda e dos carros pelos guardas sem estarem em suas funções profissionais;
B_ ou inquérito policial por conduta criminosa: caso as pessoas que aparecem no vídeo estejam usando as armas da GCM, os guardas podem responder por conduta criminosa por entregar a arma de fogo aos civis. Os policiais ainda podem se tornar réus por terem sido cúmplices do crime de disparo de arma de fogo quando não há necessidade.
Segundo a juíza, uma investigação da Polícia Civil para verificar se as armas eram realmente dos guardas deverá ser rápida. “Eles verão quantas munições foram disparadas e comparar com o raio que os disparos efetuados alcançaram. Casando o tiro com a arma, a perícia prova em dois minutos”.