Confrontos armados, explosões e barricadas paralisaram comunidades, expondo a fragilidade de seus moradores. A recente operação das forças de segurança no Rio de Janeiro reacendeu o debate sobre os efeitos da violência urbana, que vão além das consequências imediatas, impactando a saúde mental da população.
Especialistas alertam que a violência urbana, ao manter as pessoas em estado de alerta constante, afeta o sistema nervoso e prejudica o desenvolvimento psicossocial, especialmente de crianças e adolescentes que vivem em áreas dominadas ou disputadas por facções criminosas.
“A exposição à violência urbana pode criar um nível de estresse altíssimo, afetando a saúde das pessoas”, afirma a psicóloga Marilda Lipp, especialista em estresse. A busca por segurança é uma necessidade básica, e a sensação de insegurança pessoal, familiar ou comunitária pode gerar perturbações emocionais, como ansiedade crônica e depressão, manifestadas por taquicardia, hipertensão, problemas gastrointestinais, insônia, irritabilidade e dificuldade de concentração.
O estresse é uma resposta fisiológica a ameaças, preparando o corpo para lutar ou fugir. No entanto, a exposição contínua à violência mantém o corpo em estado de alerta constante, o que pode levar ao adoecimento. Mesmo pessoas que não são diretamente expostas à violência podem se sentir impotentes e desamparadas.
Lipp, criadora do Treino de Controle de Estresse, defende que o governo capacite a população para lidar com o estresse de forma saudável, oferecendo treinamento em unidades de saúde e escolas. “É muito importante ensinarmos nossas crianças a lidar melhor com o estresse”, conclui.
O psiquiatra Octávio Domont de Serpa Júnior, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirma que a procura por serviços de saúde aumenta após eventos que geram comoção e insegurança. “Verificamos que essas situações impactam a demanda na rede de atenção primária”, diz Domont, destacando que a questão transcende o sofrimento individual.
“Há também o sofrimento coletivo. Esta é uma questão estrutural, política e social que não podemos ignorar”, completa o psiquiatra. Ele enfatiza a importância de os profissionais de saúde estarem preparados para acolher e cuidar das vítimas diretas e indiretas da violência, evitando que os sintomas se tornem crônicos. Diante da aparente falta de solução para o problema da segurança pública, muitas pessoas podem ser expostas repetidamente a situações de violência.
Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br



