Famílias das vítimas da Operação Contenção, realizada no início desta semana nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, começam a deixar o Instituto Médico Legal (IML) após a identificação dos corpos. A Polícia Civil informou que, até o dia 31, apenas oito corpos aguardavam identificação.
Entre alívio e indignação, familiares relatam o fim da busca por entes queridos, mas também expressam profunda tristeza diante da tragédia. Karine Beatriz, grávida de poucos meses, esteve no IML para reconhecer o corpo de seu esposo, Wagner Nunes Santana, pai de seu futuro filho. Após três dias de busca na mata, ela o encontrou em um lago na Serra da Misericórdia, na Penha.
“Após três dias de buscas consegui localizar o corpo, mas alívio eu só vou ter com repostas para as perguntar que não vão calar: ‘de onde vem pena de morte, se existe presídio, presídio é apenas enfeite? Até quando vai isso?'”, questionou Karine, referindo-se à alta letalidade das operações policiais no Rio. “Temos crianças assustadas, uma comunidade abalada, é muita dor”, desabafou.
Ela destacou que, apesar de seu envolvimento com o crime, Wagner era um pai de família, trabalhador e responsável pelo sustento da casa. “Independente dos erros dele, ele era trabalhador, era família, semana passada, estava ajudando a erguer uma casa na comunidade, ajudou a fazer o ‘cabelo maluco’ da minha filha. Tenho uma filha de 9 anos, que não era filha dele e ele fez o cabelo dela para escola, levou para brincar, sabe, são momentos que não vão voltar”, lamentou.
Segundo Karine, o corpo de Wagner foi encontrado com um tiro na testa, mas a polícia não esclareceu as circunstâncias de sua morte. Ela também denunciou execuções durante a operação. “Eles não vieram prender ninguém, eles foram para matar. É até mesmo quem se entregou, eles mataram. Eu procurei, desde o primeiro dia, eu procurei um por um. Não sei o que fizeram, mas enterro vai ter de ser caixão fechado”, relatou.
De acordo com o balanço mais recente da Operação Contenção, 99 pessoas foram identificadas pelo IML até sexta-feira. Desse total, 42 possuíam mandado de prisão pendente e 78 tinham envolvimento com atividades criminosas. Treze eram de outros estados, incluindo Pará, Bahia, Amazonas, Ceará, Paraíba e Espírito Santo.
O governo do estado justificou a operação como uma medida para conter a expansão do Comando Vermelho. Investigações indicavam que integrantes do grupo recebiam treinamento em armamento, tiro, uso de explosivos e táticas de combate nas áreas visadas. A operação também revelou que a facção movimentava cerca de 10 toneladas de drogas por mês nessas áreas, que serviam como polos de abastecimento para outras comunidades controladas pelo grupo.
Apesar das críticas sobre a eficácia da operação e seus custos para a cidade, o governador Cláudio Castro defendeu a ação: “Tendo em vista estes resultados, a gente vê que o trabalho de investigação e inteligência foi adequado, todos perigosos e com ficha criminal. Também, pela identificação das origens desses ‘narcoterroristas’, reforço a importância da integração com os estados. Em breve, vamos entregar os relatórios completos para as autoridades competentes”, afirmou em nota.
Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br



