A Catedral da Sé, no coração de São Paulo, ficou repleta em um ato ecumênico promovido pela Comissão Arns e o Instituto Vladimir Herzog, marcando os 50 anos do assassinato do jornalista Vladimir Herzog pela ditadura militar. A cerimônia ocorreu em 25 de outubro, data da morte de Herzog, e no mesmo local onde, em 1975, foi realizado um histórico culto inter-religioso que reuniu cerca de 8 mil pessoas em desafio ao regime militar.

Ivo Herzog, filho de Vladimir, presente no evento, expressou o desejo de que um processo legal completo seja realizado para apurar os crimes da ditadura militar. Ele enfatizou a necessidade de investigar as circunstâncias, indiciar os autores (vivos ou mortos), julgar e obter uma decisão do poder judiciário sobre a culpabilidade dos envolvidos.

Ivo Herzog destacou que a revisão do parecer do Supremo Tribunal Federal (STF) em relação à Lei da Anistia de 1979 é uma demanda da sociedade, lembrando que a ADPF 320, que trata sobre a anistia, aguarda há mais de oito anos a análise do ministro Dias Toffoli.

“O Brasil tem uma tradição, desde que se tornou uma república, onde aconteceram vários golpes e ou tentativas de golpes. Todos esses eventos têm duas coisas em comum: a presença dos militares e a impunidade”, afirmou Ivo Herzog. Ele ainda acrescentou: “Eu entendo que esse atraso, essa abstenção do ministro Toffoli, infelizmente, é uma cumplicidade com essa cultura de impunidade.”

Ivo afirmou ainda que o tema da anistia tem sido sequestrado pela extrema-direita. “Anistia é um perdão. A anistia de 1979, por si só, é uma aberração, porque o regime autoritário da época nunca reconheceu que cometeu nenhum crime. Como anistiar quem não cometeu crime? A mesma coisa está acontecendo novamente com esses que estão sendo julgados pelo 8 de janeiro. Eles não admitem que cometeram crime”, disse.

O presidente em exercício Geraldo Alckmin compareceu à cerimônia. “A morte do Vladimir Herzog foi o resultado do extremismo do Estado que, ao invés de proteger os cidadãos, os perseguia e matava. Por isso, fortalecer a democracia, a justiça e a liberdade”, disse Alckmin. Questionado se era a favor da revisão da Lei da Anistia de 1979, ele respondeu que “acho que já demos bons passos nessa questão”.

Vladimir Herzog foi preso sem ordem judicial e torturado até a morte nas dependências do Doi-Codi, órgão de repressão da ditadura militar. Na época, ele era diretor de Jornalismo da TV Cultura. O jornalista Sérgio Gomes, que estava preso no Doi-Codi na data do assassinato, relatou ter ouvido a tortura de uma pessoa que era questionada sobre os jornalistas. A versão oficial da época, contestada desde então, foi de suicídio.

No dia 31 de outubro de 1975, um ato realizado na Catedral da Sé se tornou um marco na resistência democrática, liderado por figuras religiosas como dom Paulo Evaristo Arns, o rabino Henry Sobel e o reverendo Jaime Wright. Cinquenta anos depois, o novo ato inter-religioso na Sé foi dedicado à memória de todas as vítimas da ditadura.

No começo da cerimônia, os presentes acompanharam a apresentação do Coro Luther King, seguida de manifestações inter-religiosas. Também foram exibidos vídeos com imagens de manifestações e de vítimas do Estado desde a ditadura militar até os dias atuais. Entre os vídeos, a leitura de uma carta de Zora Herzog, mãe de Vlado, feita pela atriz Fernanda Montenegro.

Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br

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