O Museu do Ipiranga, em São Paulo, acaba de lançar o podcast “Pensar o presente – histórias de um museu em transformação”, marcando os 130 anos de sua abertura. A produção do Estúdio Novelo consiste em cinco episódios, com lançamentos semanais às quartas-feiras, que propõem uma reflexão crítica sobre as narrativas construídas pelo museu ao longo de sua trajetória.

Para Paulo César Garcez Marins, diretor do Museu do Ipiranga, é fundamental que um museu de história constantemente reveja suas abordagens, ampliando seus horizontes para incorporar as diversas narrativas presentes na sociedade brasileira em suas exposições e coleções. Segundo ele, diversas instituições têm se dedicado a alargar o perfil de suas coleções, visando uma maior representatividade da diversidade social brasileira.

Os episódios do podcast partem de itens ou coleções do acervo do museu que evidenciam essa diversidade. Antes, o museu representava principalmente as elites paulistas, mas agora busca contemplar outros segmentos sociais. A iniciativa reflete sobre o apagamento da população e da cultura negra nos debates históricos, bem como a ausência das mulheres e de temáticas femininas nessas narrativas.

O diretor explica que, ao longo de cerca de 100 anos, o museu reuniu coleções cujos objetos eram vinculados a seus proprietários, geralmente figuras de importância política ou de grande fortuna na cafeicultura. Atualmente, o museu procura entender os processos que permitiram a existência desses objetos, como chegaram às coleções e qual foi a função que desempenharam em uma cadeia social mais ampla, envolvendo produção, circulação, aquisição e descarte.

Nos últimos 30 anos, a instituição passou a receber e adquirir objetos ligados a diversas classes sociais e ao cotidiano. Um dos episódios, “Doces Memórias”, apresenta uma coleção de quase 5 mil rótulos de balas, chicletes, biscoitos, remédios, cigarros, bebidas e pães, que remetem a designers anônimos que contribuíram para a memória da sociedade.

O episódio “Presença na Ausência” aborda a invisibilidade de grupos étnicos no museu, diante da falta de acervos relacionados às populações indígenas e de origem africana. Já “Saber Fazer” tem como ponto de partida os tijolos utilizados na construção do edifício do museu, onde se identificam as olarias através de seus monogramas.

“Álbum de Família” debate a importância das coleções de fotografias na história do museu a partir da década de 1990, com a entrada da coleção do fotógrafo Militão Augusto de Azevedo, composta por 12 mil fotografias de diversos segmentos sociais e étnicos da cidade, incluindo retratos da população em geral. A entrada dessa coleção foi um marco para a relevância da fotografia no museu, que antes era focado em retratos a óleo das elites. O episódio também apresenta a Coleção Nery Rezende, de uma mulher negra que criou um arquivo pessoal a partir de sua vida no século 20.

Os episódios permitem que a população se aproxime das reflexões do museu, mostrando o frescor de uma instituição que se mantém contemporânea, a partir de seus profissionais e da colaboração da sociedade. Cerca de 80% da coleção do Museu do Ipiranga é doada pela sociedade.

Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br

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