Um estudo recente sobre a distribuição da riqueza nacional revela um cenário de profunda concentração econômica no Brasil. Vinte e cinco municípios foram responsáveis por impressionantes 34,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2023, a soma de todos os bens e serviços produzidos no país. Essa concentração do PIB brasileiro é um fenômeno persistente, com grandes centros urbanos e capitais mantendo sua relevância histórica, mas também exibindo dinâmicas de participação em constante evolução. A análise detalhada desses dados oferece uma visão clara das forças econômicas que moldam o desenvolvimento regional e nacional.
A concentração da riqueza nacional
O protagonismo das capitais e a persistência dos líderes
A hegemonia econômica de poucos centros urbanos no Brasil é um dado consolidado. Em 2023, a contribuição de apenas 25 municípios para o PIB nacional superou um terço do total, atingindo 34,2%. No topo dessa lista, destacam-se São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, cidades que consistentemente ocupam as primeiras posições desde o início da série histórica em 2002. No entanto, especialistas observam que, apesar de sua liderança inabalável, essas metrópoles têm apresentado uma leve, mas gradual, perda de participação ao longo dos anos, indicando uma redistribuição lenta e sutil da atividade econômica.
Expandindo o escopo, a concentração se intensifica: apenas cem municípios respondem por 52,9% do PIB do Brasil. Dentro desse grupo seleto, a representatividade das capitais é notável, com 11 delas integrando os 25 primeiros colocados. Além das capitais, nove municípios paulistas, quatro fluminenses e um mineiro completam esse rol de gigantes econômicos. A predominância dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro na formação do PIB nacional é inegável, refletindo a estrutura econômica historicamente centralizada do país.
Quando separamos a análise entre capitais e não capitais, os dados de 2023 mostram que as capitais, incluindo Brasília, foram responsáveis por 28,3% do PIB brasileiro. As cidades que não ostentam o título de capital, por sua vez, representaram a maior parcela, com 71,7%. Este panorama ressalta a importância das grandes metrópoles, mas também a crescente contribuição de centros secundários e regiões industrializadas ou com forte atividade extrativa.
Dinâmica setorial e o impacto do petróleo
Variações de participação e o PIB per capita
O ano de 2023 trouxe dinâmicas interessantes na participação dos municípios no PIB nacional, impulsionadas, em grande parte, pelo setor de serviços. Este setor foi o principal motor para o aumento da participação de diversas capitais. São Paulo registrou o maior ganho de participação, adicionando 0,4 ponto percentual (p.p.) e alcançando 9,7% do PIB nacional. Outras capitais como Brasília, Porto Alegre e Rio de Janeiro também viram suas fatias aumentarem em 0,1 p.p. cada. Belo Horizonte, embora com uma variação mais próxima de 0,1 p.p., manteve sua posição entre as capitais de maior peso econômico.
Contrariamente a esses ganhos, 30 cidades registraram perdas de participação no PIB. Dessas, sete tiveram suas perdas diretamente relacionadas à atividade de extração de petróleo. Os cinco primeiros municípios na lista dos que mais perderam participação são emblemáticos dessa tendência: Maricá (RJ), Niterói (RJ), Saquarema (RJ), Ilhabela (SP) e Campos (RJ). Essa retração é um indicativo da volatilidade e da dependência econômica de alguns municípios em relação a commodities. Adicionalmente, nove municípios cuja atividade principal era a indústria de transformação também experimentaram uma diminuição em sua contribuição para o PIB, sinalizando desafios em setores industriais específicos.
Uma observação curiosa surge ao analisar o PIB per capita. As seis cidades com o maior PIB per capita em 2023 estão intrinsecamente ligadas à extração e refino de petróleo. Especialistas apontam para um paradoxo: mesmo em um contexto nacional onde a atividade extrativa de petróleo pode ter perdido participação geral, a entrada em produção de novos campos em 2023 beneficiou diretamente alguns municípios específicos. Saquarema (RJ) exemplifica essa dinâmica, liderando o ranking de PIB per capita com R$ 722,4 mil por habitante.
Entre as capitais, Brasília (DF) se destacou com o maior PIB per capita, alcançando R$ 129,8 mil. Este valor é notavelmente 2,41 vezes maior que a média nacional, que foi de R$ 53,9 mil por habitante. Na outra ponta do espectro, o município com o menor PIB per capita do país foi Manari (PE), registrando R$ 7.201,70. A disparidade regional é ainda mais evidente quando se observa que quatro dos cinco menores PIBs per capita estavam no Maranhão: Nina Rodrigues, com R$ 7.701,32; Matões do Norte, com R$ 7.722,89; Cajapió, com R$ 8.079,74; e São João Batista, com R$ 8.246,12. Esses números sublinham as profundas desigualdades econômicas entre as regiões brasileiras.
Perspectivas e o futuro da distribuição da riqueza
A análise da participação dos municípios no PIB nacional em 2023 reitera a persistência de uma forte concentração econômica em poucas cidades, especialmente capitais e grandes centros urbanos. Embora a hegemonia de metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro permaneça inquestionável, a sutil redução de sua participação ao longo dos anos, somada ao dinamismo do setor de serviços e aos impactos específicos da indústria do petróleo, sugere uma paisagem econômica em constante, ainda que lenta, reconfiguração. As disparidades regionais, evidenciadas pelos extremos de PIB per capita, reforçam a urgência de políticas públicas focadas em desenvolvimento regional equilibrado, visando a uma distribuição mais equitativa da riqueza nacional e a um crescimento mais inclusivo.
Perguntas frequentes
Quais são os municípios que mais contribuem para o PIB brasileiro?
Os três municípios que mais contribuem para o PIB brasileiro são São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Brasília (DF). Essas cidades têm se mantido nas primeiras posições desde o início da série histórica em 2002, embora com uma leve perda gradual de participação.
Como o setor de serviços e a extração de petróleo influenciam a participação dos municípios no PIB?
O setor de serviços teve um papel crucial em 2023, impulsionando o aumento da participação de diversas capitais no PIB, como São Paulo, Brasília, Porto Alegre e Rio de Janeiro. Já a extração de petróleo mostrou um efeito dual: enquanto foi responsável pela perda de participação de sete municípios no ranking geral, paradoxalmente, as seis cidades com o maior PIB per capita estão vinculadas a essa atividade, beneficiadas pela entrada em produção de novos campos.
Qual é a diferença entre o PIB dos municípios e o PIB per capita?
O PIB dos municípios representa a soma total de bens e serviços produzidos dentro dos limites de uma cidade, indicando seu volume econômico absoluto. Já o PIB per capita é o resultado da divisão do PIB total do município pelo número de seus habitantes, oferecendo uma medida da riqueza média por pessoa e do nível de desenvolvimento econômico individual.
Houve mudanças na participação das capitais no PIB nacional em 2023?
Sim, em 2023, as capitais, incluindo Brasília, responderam por 28,3% do PIB brasileiro. Algumas delas, como São Paulo , Brasília, Porto Alegre e Rio de Janeiro, aumentaram sua participação impulsionadas principalmente pelo bom desempenho do setor de serviços.
Para aprofundar seu entendimento sobre a economia brasileira e suas nuances regionais, explore mais dados e análises econômicas.



