Um novo documentário, intitulado “Herzog – O Crime que Abalou a Ditadura”, chega ao público nesta quinta-feira, reconstituindo os eventos que levaram ao assassinato do jornalista Vladimir Herzog, ocorrido há 50 anos. O filme, produzido pelo Instituto Conhecimento Liberta (ICL), busca apresentar um novo olhar sobre a trajetória do jornalista, professor e cineasta, vítima de tortura e assassinato por agentes da ditadura militar. O lançamento será realizado no canal do ICL no YouTube.
A produção conta com depoimentos de amigos, colegas de redação e familiares de Herzog, que ajudam a contextualizar a comoção nacional gerada por sua morte e sua transformação em um símbolo da luta pela democracia no Brasil. De acordo com Antônio Farinaci, diretor e roteirista do filme, o objetivo é despertar um novo interesse pela história, explorando elementos inéditos.
Vladimir Herzog, nascido na antiga Iugoslávia e refugiado no Brasil com sua família para escapar do nazismo, teve sua morte inicialmente noticiada como suicídio pelos agentes da ditadura. Essa versão, posteriormente desmentida, contribuiu para que o caso se tornasse um marco na resistência e na luta pela liberdade de imprensa.
Márcia Cunha, diretora executiva de conteúdo do Instituto Conhecimento Liberta, explica que o documentário se concentra em um recorte específico: o crime em si, desde a semana anterior ao assassinato até a semana seguinte. O objetivo é expor as ações da ditadura e as consequências do crime para o jornalista, para o país e para a história brasileira.
Cunha ressalta a importância de relembrar o caso Herzog, especialmente diante do reaparecimento de grupos que defendem o regime militar. Ela destaca que a produção busca mostrar como a ditadura agia, utilizando comportamentos e estratégias que, segundo ela, se repetem até hoje, como a disseminação de notícias falsas e ataques a jornalistas.
O filme apresenta depoimentos de jornalistas como Dilea Frate, Paulo Markun, Rose Nogueira e Sérgio Gomes, do filho de Vladimir Herzog, Ivo Herzog, e do diretor e roteirista João Batista de Andrade.
A produção enfrentou desafios na busca por imagens da época, devido à falta de acervos e ao falecimento de muitas testemunhas. Para contornar essa dificuldade, a equipe utilizou storyboards e elementos de histórias em quadrinhos para recriar cenas da vida de Herzog, como sua prisão e os momentos de tortura, buscando aproximar a história das novas gerações.
Para a reconstituição das situações dramáticas, como o enterro e a tortura, foram utilizados desenhos da artista Paula Villar, baseados em depoimentos e iconografia disponível.
O diretor do filme enfatiza que o roteiro foi construído com base nos depoimentos de pessoas que vivenciaram os eventos e foram testemunhas em primeira mão da história.
Segundo a diretora do ICL, o impacto do crime de Herzog foi tão grande que evidenciou a divisão existente no regime militar em relação à sua continuidade. O documentário busca mostrar como esse crime contribuiu para o avanço da linha que defendia a abertura democrática.
O ICL também lança o podcast “Caso Herzog – A foto e a farsa”, que explora os bastidores da foto de Herzog enforcado e a farsa do suicídio. O episódio estará disponível no canal do ICL no YouTube e em plataformas de áudio.
Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br